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TRANSAMÉRICA DECADENTE

Escrito em 18 de agosto de 2007 por Alexandre Figueiredo (Salvador-BA).

Hoje de manhã estava eu e meu irmão voltando de ônibus de um shopping e vi numa concessionária de automóveis um Transpedágio, que é aquele evento promocional da Transamérica. A rádio, mais perdida do que nunca, tocava axé-music enquanto três pessoas vestidas de palhaço dançavam e faziam bobagens.

A rádio, decadente ano após ano em todo o país, está apelando. Recorre até ao aluguel de audiência, um dos recursos usados pelas rádios que fazem "programação AM" em FM. No dia do jogo da final da Copa América, por exemplo, uma loja estava "espontaneamente" com o rádio ligado na Transamérica, que transmitia a partida. A papelaria é anunciante da rádio. A Rádio Metrópole fez algo parecido com as Lojas Americanas, ironicamente ao lado da seção de discos.

A transmissão esportiva da Transamérica mistura TV aberta com som de AM. É uma gororoba. Eder Luís, xará de um jogador de futebol, é figura da Rede TV!. Seu "lado AM" chega a ser extremamente envelhecido, o Transnotícias parece uma CBN com mais bolor, e as transmissões esportivas da Transamérica parecem misturar programa de TV com transmissão esportiva dos anos 70. Nem a Band News soa tão velha assim. A Transamérica é propriedade de um banqueiro, o que a coloca na situação da mídia de direita. E, como a revista Veja, não sente a própria decadência, porque nada em dinheiro e está entrosada com os donos do poder.

Sabia que as FMs brasileiras sofrem da síndrome do marido-corno? Elas embarcam numa tendência sempre com atraso, como se fossem as últimas a saber. A diluição do radialismo rock se deu nos anos 90, quando o modismo roqueiro havia passado e o grande público passou a consumir música brega-popularesca (Chitãozinho & Xororó, É O Tchan, DJ Marlboro, Chiclete Com Banana). Além disso, outras tendências como hip-hop, techno e dance music passaram a chamar mais atenção dos jovens. E a MPB, para os mais conscientizados. Mas a 89 FM veio com aquele temperamentalismo e forçaram a Rádio Cidade a ser "rádio rock" e de repente aqueles menudinhos do rádio pensando serem os Hell's Angels, tal qual já sabemos. E aí o mercado praticamente expulsou essas rádios, de tão defasadas estavam diante da Internet (que, de rock, mostrava aos internautas um enorme leque de nomes bacanas de qualquer época).

Agora as FMs com roupagem de AM, com o início do desgaste do "quarto poder" (a chamada grande imprensa), só agora tentam expandir seu reinado. A era da grande imprensa foi no final dos anos 80 até a primeira metade dos 90, quando até Pimenta Neves era tido como "herói". Tinha o "projeto Folha" que mascarava um jornal neoliberal com o verniz de "esquerda", e o máximo que a grande imprensa fez foi criar uma legião (não muito grande, mas barulhenta e influente) de tietes, verdadeiros "macacos de auditório".

Há 18 anos atrás, a imprensa fazia festa com as eleições diretas, com a globalização, e a Folha virou um símbolo dessa era. Mas depois a grande mídia sofreu um desgaste, Pimenta Neves matou, Veja humilhou e Folha traiu seus próprios profissionais. O quarto poder não é mais visto com o mesmo deslumbramento, mas há ainda tietes capazes de fazer uma micareta só para comemorar a Band News FM, e os cinqüentões bebuns que imaginarão que a Band Sports FM faz sucesso antes de ir ao ar. Em 1990, talvez a CBN FM fosse um estouro de audiência. Mas hoje a CBN FM perde audiência até em lugares que tinha maior êxito, como Curitiba (onde desalojou a histórica rádio de rock Estação Primeira), Recife, Brasília e São Paulo. Apanha no Ibope no Rio e em Maceió é até alvo de denúncia de corrupção.

Será que vamos ter que aturar durante vinte anos o bom-mocismo de FMs que imitam o rádio AM, como os quinze que tivemos que aturar com rádios pseudo-roqueiras? Pior é que essas FMs acabam tendo baixa cotação no mercado e as pessoas em geral desligam o rádio, porque tem muitas outras coisas para fazer.

Sobre a Jovem Pan 2, não se deve esquecer que ela está na ciranda das "rádios AM em FM", clonando a programação esportiva (debates, noticiários e transmissão esportiva) da Jovem Pan 1.

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